O LOBO E O CACHORRO

O LOBO E O CACHORRO

27/06/2022 Amor e Luz 0

Um lobo, que era magro de dar dó, pois boa vida não lhe dava os cães de guarda, certo dia encontra um desses animais, tão gordo e tão forte que era de fazer inveja.

O cão, que estava perdido, pois se distanciou dos donos enquanto eles passeavam, em vez de atacar o lobo, deu-lhe um pedaço da carne que trazia.

O lobo come com prazer, mas temendo que o cão o atacasse, como os outros cachorros que tentavam se aproveitar de sua fraqueza, dirigiu-lhe a palavra humildemente e fez um elogio, dizendo-lhe que admirava sua robustez e que gostaria de ficar como ele.

O cão explicou-lhe: – Se quer ser bonito e gordo como eu, deixe o bosque e me acompanhe. Seus semelhantes são miseráveis, pobres diabos sem opção, cuja única condição é morrer de fome. Venha comigo e você terá um destino melhor.

O lobo perguntou: – O que será necessário fazer?

E o cachorro respondeu – Quase nada. É mesmo pouca coisa: basta afugentar os que portam cacetes, ou vêm mendigar; defender a todos os da casa, e ao dono com agrados receber. Em troca de caça que você conseguir, as pessoas lhe darão moradia, carnes – quem sabe, até lombo, restos de ossos de peru, perdiz, frango e pombos… Isso sem falar de muitas carícias. Venha comigo. Você irá sentir prazer em ter um senhor.

O lobo, já antevendo tamanha felicidade, chora de emoção e decide acompanhar o cão de guarda. Percorrendo o caminho que o levaria à fartura e aos bons tratos, ele vê algo que lhe pareceu suspeito no pescoço do cachorro e pergunta:

– Que é isso em seu pescoço, amigo?

– Nada…

– Mas como nada: E essa pelada?

– Essa é a marca da coleira que põem em meu pescoço quando fico preso.

– Coleira? Preso? – indaga o lobo algo surpreso. – Não se pode sair quando se queira?

– Nem sempre, e importa?

– Claro! Isso tem muita importância. Eu nunca trocaria por qualquer iguaria a liberdade. De todas as refeições eu não quero nenhuma. O preço que eu teria que pagar por elas é muito alto.

Dizendo isso, o senhor lobo desapareceu por entre o verde do bosque e vai caçar.

La Fontaine e o Comportamento Humano – Francisco do Espírito Santo Neto 

Ditado por Hammed

Moral da História: Quem age segundo o ponto de vista dos outros está muito longe de ser um homem livre. De todos os bens que o homem possa ter, o mais valioso é a liberdade. Não há utilidade, conveniência nem prazeres que compensem o seu sacrifício. A liberdade é tão somente a capacidade de viver com as consequências dos próprios atos e atitudes. Não podemos mensurar a liberdade de ninguém, pois todos nós ainda não sabemos o que é ser livre de verdade. Liberdade em si não consiste em viver simplesmente livre dos grilhões e sem controle, mas, sim, em ser o próprio mediador na contenção dos ímpetos, na avaliação das ações, no limite dos anseios e na moderação das emoções. Podemos ser livres sem ferir a nós e ao outros. Na realidade, ao descartarmos o “livro das convenções” teremos mais alegria e dádiva sem violar os direitos naturais que regem todos os seres humanos.

Reflexões Sobre Esta Fábula e o Evangelho: “(….) A máxima: fora da caridade não há salvação, é a consagração do princípio da igualdade diante de Deus e da liberdade de consciência: com esta máxima por regra, todos os homens são irmãos, e qualquer que seja a sua maneira de adorar a Deus, eles se estendam às mãos e oram uns pelos outros. (….)” (E.S.E. cap.XV, item 8).

“Ora, o Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor há liberdade. “Paulo – II  Corintios, 3:17).

“Não desejaríamos as coisas com ardor se soubéssemos perfeitamente o que desejamos.” (La Rochefoucauld).

“Muitos de nós desconhecemos o verdadeiro significado da liberdade, dádiva concedida ao individuo de poder exprimir-se, responsavelmente, de acordo com sua vontade, consciência e natureza (….).

A propósito, é bom lembrar que “viver solto” é completamente diferente de “viver livre” (Hammed).