UMA HISTÓRIA DE ADOÇÃO
Sempre dizia a mim mesmo: – Quando eu crescer vou adotar 100 crianças de todos os países do mundo.
Minha mãe ouvia este comentário e dizia: – é uma ideia maravilhosa, até adotar uma única criança seria muito lindo.
Cresci e tive duas filhas, e aí decidimos, eu e meu marido, a aumentar a família procurando no exterior uma criança para adotar, e achamos Adar de 10 meses na Etiópia. Ele cresceu, começou a andar e a esconder-se, e me fazia sorrir cada vez que se escondia de todos nós, abrindo seu sorrido iluminado e suas mãos fortes.
Um dia ele me perguntou: – Mamãe, onde está minha mãe de barriga?
Respondi: – Não sei meu doce, às vezes também gostaria de saber mais dela.
Quando tinha quatro anos, ao ler um livro, palavra por palavra das ilustrações que ele continha, percebi que Adar não estava feliz. O livro tinha também uma parte que lhe faltava, e que falava sobre um pedaço de pizza faltando. Ele me perguntou: – Como falta essa parte da pizza no livro?
Respondi: – Oh! Não sei.
Adar disse: – vou procurar, e se escondeu debaixo da minha blusa “finja que estou em sua barriga”.
E ele tão pequeno que coube debaixo de minha camiseta larga.
Não era a primeira vez que fingíamos que eu estava grávida dele. As vezes ele dizia: – finja que estou andando, finja que encontrei um amigo, ai ele completava, – posso sempre entrar em sua barriga?
– Você pode fingir, mas não pode de verdade entrar em minha barriga.
– Por quê? Ele perguntava.
E aí, deixava eu de responder e ficávamos os dois aconchegados em sua caminha.
Passado algum tempo ele perguntou-me: – Quem é minha mãe de barriga?
Novamente respondi: – Não sei. E deixei meus olhos se encherem de lágrimas.
– Porque ninguém a conhece? Minha mãe de barriga cuidou de mim? Quando eu nasci doeu na minha mãe de barriga? Ela está morta?
Respondi-lhe novamente: – Não seu meu doce.
De repente ele diz: – uma pessoa que conhecemos, conheceu minha mãe, disse ele.
– É mesmo querido. Levantei a cabeça para ver seu rosto inteiro. – Quem?
– Eu quando nasci.
– Meu Deus, você tem razão, você a conheceu.
Puxei o cobertor e o ajeitei sobre ele. Ele continuou: – Mas não me lembro dela?
– Aí meu doce menino, ninguém se lembra quando era bebê, e aproveitei para lhe contar a história do bebê Moisés.
– Ah, Adar, sua mãe de sangue ocupou seu lugar na linhagem de mulheres que puderam salvar seus filhos, abandonando-os, deixando de lado o apego e o egoísmo. Abracei-o com força e coloquei sua cabeça sobre meu peito. E completei: – Sempre haverá a falta de um pedaço de pizza, porém o nosso amor será a força que completará sua totalidade. Você, com certeza, é o pedaço de pizza que faltava em nossa casa.
(Referência: Revista Seleções)
Linda de Fátima