JESUS E O SUICÍDIO

JESUS E O SUICÍDIO

10/09/2020 Juventude 0

Em uma tarde quente de verão, Jesus, aos 16 anos de idade, ajudava mãe Maria nos afazeres domésticos, tentando aliviá-la do peso das obrigações diárias. De repente, Jesus sentiu que algo estava para acontecer. Ficou sério e subiu seu pensamento até Deus.

Jesus saiu da humilde residência e, embaixo de um sol escaldante, sem brisa, correu por entre as ruas poeirentas de Nazaré, em direção a um pequeno bosque que havia perto do lago da cidade. Jesus se deteve ao ver a triste cena que começava a se desenrolar a sua frente.

Mais adiante, embaixo de uma frondosa figueira, um homem, em torno dos seus quarenta anos, magro, alto e completamente transtornado, fazia uma forca com uma grossa corda em um dos galhos da árvore, e, no momento em que ia colocar o próprio pescoço no laço da corda, Jesus, com sua doce voz, disse:

– Meu irmão, em que posso lhe ser útil?

O homem se assustou. Parou o que fazia e respondeu, ríspido:

– Sai daqui moleque! Isso não é assunto seu!

– Como não? A dor que um irmão sente, eu sinto em mim!

Seus olhos se cruzaram. Jesus pôde ver no olhar daquele homem o desespero, a dor, a desilusão, a depressão, a frustração, a falta de significado. Aquele homem pôde ver no olhar de Jesus o amor, o carinho, a compreensão, a paz e uma lucidez fora do comum. Jesus estendeu a mão para ele.

– Qual o seu nome, meu irmão?

– Asher – ele respondeu.

– Abençoado* seja tu, Asher, porque hoje encontrou a vida.

Jesus se aproximou de Asher e o abraçou. Asher caiu em prantos. Após longos minutos de um choro alto e lágrimas volumosas, Jesus o ajudou a se sentar nas raízes da figueira. De mãos dadas com Asher, Jesus ficou em silêncio compreensivo ciente de que não precisava dar lição de moral, mas sim presença e acolhimento para aquele coração sofrido.

Sentindo que Jesus não o julgava, pelo contrário, o acolhia, Asher tomou coragem e desabafou:

– Eu era um rico comerciante de espeçarias e fazia a rota Jerusalém, Roma, passando pelas ilhas do mediterrâneo. Eu era casado com Ester e pai de Amir. Eu era um homem feliz, pelo menos eu achava que era. Um dia, eu perdi todo o meu carregamento em um naufrágio. Contraí muitas dívidas. Embora estivesse conseguindo quitá-las com dificuldade, um novo naufrágio arrasou todas as possibilidades de eu me livrar delas. Mesmo assim, me mantive em pé, buscando uma forma de me recuperar. Já tinha traçado alguns planos de como pagá-las quando eu recebi o mais duro golpe da minha vida. Um dos meus credores, um homem irracional, me levou ao juiz, mesmo eu implorando e explicando que pagaria tudo. Fui preso. Minha esposa e meu filho também foram presos. Mas aquele homem não queria apenas que eu pagasse a minha dívida, ele queria mais: queria Ester. Ele propôs que eu a repudiasse e lhe desse a carta de divórcio para que ele pudesse se casar com ela e, em troca, perdoaria a minha dívida. Claro que me neguei. Então ele comprou o juiz e conseguiu que Ester e meu filho fossem vendidos como escravos e enviados para Roma. Eu perdi tudo. Tudo. Por quê? Por que tanto sofrimento? Qual o significado disso tudo?

Jesus, ainda segurando a mão de Asher, olhou para o céu. Entardecia.

– Asher, quando a água do banho está muito quente, o que você faz para que ela esfrie?

– Coloco mais água fria na banheira – respondeu sem entender o porquê de tal pergunta.

– Pois então coloque água fria em seu coração. Você quer acabar com a sua dor, com a sua revolta, com o seu sentimento de impotência. O suicídio é colocar mais água quente em uma banheira que já está fervendo.

– Como eu faço isso?

– Não existe um caminho único, Asher, mas vários a sua escolha. Pode ser o caminho da oração a Deus. Pode ser o da aceitação pelo que não se pode mudar. Pode ser o do perdão. O do amor. O do trabalho. Mas também pode ser o caminho do apoio mútuo.

– Como assim, apoio mútuo?

– Quantos homens não são vítimas de injustiças como as suas? Podemos contá-los aos montes. Procure-os. Ouçam a história uns dos outros. Formem um grupo de apoio. Fortaleçam-se, e talvez vocês até tenham influência para que esse tipo de injustiça não aconteça mais com outras pessoas. Com o tempo, a água quente do seu coração ficará mais fria. Inclusive, talvez esse seja o motivo disso tudo: para que você e os outros trabalhem para que ninguém mais sofra tamanha aflição.

Aquelas palavras caíram como uma água fria naquele coração cheio de dor. Asher refletia profundamente em tudo o que Jesus dissera. Ficaram horas ali, em silêncio, de mãos dadas.

Ao cair da noite, quando o calor já se dissipara, Asher se levantou, abraçou Jesus e disse:

– Obrigado, garoto! Você me deu um novo propósito de vida.

– Bem-aventurados os aflitos, Asher, porque um dia, na própria terra ou no céu, serão consolados.

Jovem! Ao seu lado, caminham amigos e amigas que sorriem por fora, mas que por dentro carregam dores inimagináveis e insuportáveis. Seja o consolo de que eles precisam, levando o seu apoio, o seu carinho, a sua amizade, a sua compreensão, a sua presença para aliviá-los.

E jovem! Se é você quem precisa de consolo para suas dores íntimas, procure quem possa ajudá-lo. Há profissionais de saúde especializados que podem socorrê-lo e ajudá-lo a encontrar o consolo de que você tanto precisa.

Vinicius Del Ry Menezes

* Asher é um nome hebraico que significa abençoado, feliz.