JESUS E O CANCELAMENTO NAS REDES SOCIAIS

JESUS E O CANCELAMENTO NAS REDES SOCIAIS

25/02/2021 Juventude 0

Os sacerdotes e os anciãos manipulavam a multidão para que ela pedisse a morte de Jesus. Sem ter coragem de requisitarem por eles mesmos a morte do Mestre, os sacerdotes e anciãos inflamavam a população para que ela, sem pensar no que estava fazendo, solicitasse a morte de Cristo. E a multidão, desvairada, pedia a crucificação de Jesus e a libertação de Barrabás, criminoso condenado.

Pilatos, o governador, assistia a tudo atônito, pois reconhecia Jesus como um homem simples, amoroso, bondoso, que nada de mal fizera para ser condenado à morte. Tentou uma última vez acalmar a multidão, perguntando:

– Afinal, que mal Jesus fez?

A resposta da multidão foi:

– Seja crucificado.

Sem acusá-lo de nenhum crime, a população o condenou à morte, mesmo Jesus sendo inocente.

A resposta daquela multidão há dois mil anos, em essência, é semelhante a resposta que a multidão de hoje dá nas diversas discussões por meio das redes sociais.

Cancela ele. Você devia morrer. Você é um imbecil. Cala a boca. Sem contar os palavrões. Na verdade, a maioria são palavrões. E outros tipos de agressões verbais que não cabem aqui.

Se analisarmos bem, se essas pessoas que se reúnem em torno de um post para ofender e condenar quem publicou algo com o qual não concordam pudessem se reunir, elas condenariam à morte o seu autor. Se é que elas mesmas não cometeriam o crime.

Muitos se defendem alegando que apenas criticam as opiniões erradas que esses autores possuem sobre diversos assuntos que não dominam e que postam indiscriminadamente. Mas essa defesa não se sustenta, pois a crítica nunca é construtiva. A crítica é o primeiro passo da violência. Repare que, ao criticar qualquer pessoa, a raiva já está ali espreitando no coração. Da raiva para a violência, basta que a multidão se junte.

Quem realmente quer debater algum assunto nas redes sociais, pode e deve fazê-lo, ainda mais quando se julga capaz de manter um nível elevado de argumentação com dados e fatos.

Ideias racistas, sexistas, misóginas, criminosas, antiéticas e preconceituosas devem ser combatidas. Mas uma coisa é combater as ideias, outra é combater as pessoas que professam essas ideias. Não será por meio de ofensas e agressões verbais que elas mudarão de opinião. Pelo contrário, a violência, seja física, emocional ou moral, apenas reforçará essa opinião que elas têm. Será por meio da instrução e educação que essas pessoas mudarão. E para isso, o respeito deve pautar a relação de todos os envolvidos.

Esse princípio está exposto na obra O Livro dos Espíritos na questão 841 em que Kardec, já preocupado com a disseminação de falsas ideias e conceitos, pergunta aos espíritos se é lícito “deixar se propagarem doutrinas perniciosas, ou se pode, sem insultar a essa liberdade, procurar trazer de novo, ao caminho da verdade, aqueles que se perderam por falsos princípios?”.

E a resposta dos espíritos é reveladora. Disseram eles:

– Certamente se pode e mesmo se deve. Mas ensinar, a exemplo de Jesus, pela suavidade e a persuasão e não pela força, o que seria pior que a crença daquele a quem se quer convencer. Se há alguma coisa que seja permitido se impor (a si mesmo), é o bem e a fraternidade. Mas não cremos que o meio de os fazer admitir seja o de agir com violência: a convicção não se impõe*.

Infelizmente não é o que se vê.

O atual cancelamento das pessoas e as inúmeras ofensas que são postadas e compartilhadas de forma agressiva nas redes sociais demonstram que, dois mil anos depois, a multidão ainda não sabe ter um debate civilizado em torno de ideias. E foi por isso que Jesus morreu: a multidão da época não sabia debater em torno do conceito de amor que ele pregava.

Jovem! Evite se envolver em polêmicas, brigas, discussões e julgamentos precipitados, principalmente nas redes sociais. Não vale a pena viver envolvido nessas discussões porque, no fim, elas não levam a lugar nenhum, apenas a perda de tempo. Na verdade, elas servem apenas para as plataformas de rede social ganharem mais com a venda de espaços publicitários.  Essas plataformas assemelham-se aos sacerdotes e anciãos antigos que inflamavam o povo contra Jesus a favor dos seus próprios interesses. Portanto, não seja massa de manobra dessas plataformas.

Vinicius Del Ry Menezes

* Para um aprofundamento dessa questão, sugere-se a leitura do capítulo Lei de Liberdade da obra O Livro dos Espíritos de Allan Kardec.