JESUS E A QUARENTENA

JESUS E A QUARENTENA

19/03/2020 Juventude 0

Jesus, logo após ser batizado por João Batista, foi ao deserto. Narra o evangelho que ele permaneceu lá por quarenta dias e quarenta noites, jejuando. O evangelho narra também que ele foi, durante esse tempo, tentado pelo diabo para que largasse a sua divina missão aqui na terra e o ajudasse a espalhar o caos.

Como muitas passagens do evangelho são metafóricas, essa passagem exige uma reflexão mais profunda.

Na época de Jesus, era costume de muitas pessoas se afastarem da rotina diária atribulada para irem ao deserto meditar. Naqueles tempos, a vida já era extremamente agitada, pois a maioria da população ia e vinha carregando problemas de ordem econômica, financeira, familiar e pessoal. Por isso, aqueles que desejavam se afastar disso tudo iam ao deserto, local perfeito para se afastar das pessoas e refletir.

Lá, as pessoas analisavam a própria vida, refletiam sobre a sua conduta perante os desafios, entendiam seus defeitos íntimos, reforçavam suas qualidades, traçavam novos planos e se fortaleciam emocionalmente e espiritualmente para colocarem em prática as novas determinações de vida a que se propunham. A tônica desse retiro, então, era a autoanálise.

Inclusive, a título de exemplo, Paulo de Tarso, após converter-se ao cristianismo, também permaneceu no deserto por cerca de três anos estudando, aprendendo, modificando o seu interior com o objetivo de abandonar a rigidez de práticas exteriores baseadas em cultos sem sentido e transformá-las em práticas íntimas de ajuda ao próximo baseada no amor ensinado por Jesus. Além disso, fortaleceu-se para os difíceis trabalhos de ensino e propagação da doutrina de Jesus para os quais fora chamado pessoalmente pelo divino amigo.

A tentação pelo diabo é uma metáfora para os nossos próprios medos, angústias e defeitos que diariamente nos prejudicam.

Portanto, essa prática de se isolar no deserto era bem antiga e comum, já que vinha desde antes de Moisés.

Mas o que espanta nessa passagem do evangelho, é que ela afirma que Jesus ficou quarenta dias em jejum.

Ao estudarmos mais detalhadamente a Bíblia, perceberemos que Moisés viveu quarenta anos no deserto antes de libertar os judeus da dominação egípcia e que depois da libertação todos andaram por mais quarenta anos no deserto antes de chegarem à terra prometida.

Interessante notar que toda vez que alguém permanecia por um longo período de tempo no deserto, todos falavam que essa pessoa ficava quarenta dias ou quarenta anos.

Isso porque, naquela época, quarenta não se referia somente ao numeral quarenta. Quarenta também era uma expressão que significava “longo período de tempo”, “vários”, “bastante”. A linguagem naqueles tempos não era tão desenvolvida como nos dias de hoje. Sendo assim, uma mesma palavra tinha muitos significados diferentes e que, pelas traduções realizadas posteriormente para o latim e outras línguas, nem sempre foi observada a real intenção do que estava escrito. Essas palavras foram traduzidas ao pé da letra e é por isso que muitas passagens do evangelho não fazem sentido, aparentemente, nos dias de hoje.

Portanto, ao afirmar que Jesus ficou quarenta dias e quarenta noites no deserto, o evangelho quis dizer que ele ficou vários dias no deserto, não necessariamente quarenta dias corridos. Quando Moisés ficou quarenta anos no deserto, não necessariamente foram quarenta anos corridos no calendário, mas vários anos.

Jesus, ao ir para o deserto e ficar vários dias lá jejuando, refletindo, pensando e analisando, ele estava se fortalecendo intimamente para os grandes desafios que viriam a partir do início de seu apostolado.

Essa passagem demonstra a importância de nós, seres humanos, de tempos em tempos, nos afastarmos da correria do dia-a-dia para refletirmos sobre a nossa vida, os nossos sonhos, os nossos desejos, as nossas necessidades emocionais, os nossos defeitos, as nossas virtudes, enfim, para nos conhecermos como de fato somos e não como pensamos que somos. Isso é importante para que possamos criar estratégias de crescimento pessoal.

Jovem! Nesses dias de calamidade, em que é necessário realizar um retiro forçado, aproveite para ler bons livros, refletir sobre a sua vida, interiorizar-se e entender os verdadeiros sonhos e desejos de sua alma. Esse movimento de nos isolarmos um pouco do mundo corrido lá de fora é importante para que possamos acalmar a nossa mente, os nossos sentimentos e nos conhecermos melhor. Não tema. Não se julgue e nem se condene. Apenas se conheça. Aceite-se. Trace novos planos de conduta. Planeje os próximos passos de sua vida. Ligue-se com Jesus por meio da oração e peça inspiração a ele. E quando toda essa pandemia passar e a vida voltar ao normal, como irá acontecer, você estará emocionalmente mais forte e de bem consigo mesmo.

Vinicius Del Ry Menezes