A PALAVRA DE ORDEM É: PERDOAR

A PALAVRA DE ORDEM É: PERDOAR

11/01/2021 Amor e Luz 0

Quase sempre quando nos sentimos injuriados, nossa tendência é aumentar o fato que nos desagradou. Se fomos ofendidos por esse ou aquele motivo, quase sempre encapsulamos o desejo de desforra e mantemos o “link” mental com as forças poderosas das trevas, que somadas a outras tantas potencializam as sombras de nossos desagravos.

Diante disto, predominam os núcleos formados pelo egoísmo e pelas paixões primitivas, porque nossos corações são duros e cremos que estamos sempre com razão. E quanto mais arraigados nesta certeza, mais esforço será necessário para que despertemos para a real necessidade do perdão. Mister tentemos entender o que ocasionou a ofensa. Por vezes, fomos nós mesmos os promotores dela, por algo que tenhamos dito ou feito.

Há casos e casos. A indignação é sentimento que, às vezes, se torna necessário diante da atitude descabida de alguém. Tal atitude não deve assumir, porém, o caráter da agressão nem do revide, devendo, sem dúvida, ser manifestada para que o outro perceba as consequências de seus atos. Contudo. Em várias ocasiões, por gostar muito de alguém, relevamos suas atitudes inadequadas para conosco e com outros, confundido os sentimentos e perdoando quando caberia a repreensão e advertência obrigatória. Até porque perdão não significa conivência com o erro. O bom senso sussurra que atitudes como essas, isto é, perdoar e desculpar sem limites incita o outro à prática do mesmo ato reprovável. Isto não é amor, mas, subserviência ou omissão.

Perdoar coisas leves contra nós mesmos é relativamente fácil, porém quando se trata de algo mais sério como um assassinato, um estupro, uma infidelidade conjugal, por exemplo, a dificuldade de superação da mágoa aumenta consideravelmente. Por isso que a Doutrina Espírita leva a refletir, que o perdão será sempre o sentimento que nas superações pessoais transcendem ao próprio ser.

Devemos dar o direito de a pessoa ser agressiva, mas não nos dá o direito de revidar a agressão. A raiva é semelhante a um raio. Pode provocar danos graves. É inesperada. Mas o rancor é calculado. É necessário que aprendamos a colocar um para-raio e evitemos os tóxicos deste sentimento negativo. No entanto, esquecer ofensa depende da nossa memória. Muitas coisas queremos esquecer e simplesmente não esquecemos. Sentimos o impacto e não temos como evitar a raiva, é fisiológico, reagimos no momento. Mas conservar a magoa é da minha vontade. Se eu conservar a mágoa tenho um transtorno psicológico, sou masoquista, gosto de sofrer. Como seres emocionais sentimos o impacto da agressão, mas não devemos nos revoltar, e trabalhamos para esquecer.

Perdoar não é esquecer por esquecer. É compreender e colocar-nos no lugar do outro. O esquecimento somente vem quando a memória se encarrega de diluir a impressão negativa, o que demanda tempo, reflexão e auto-superação. São as palavras de Jesus no evangelho de Mateus: “Ouviste que foi dito: Amarás ao teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem e caluniam”. Jesus trata de uma das mais complexas dificuldades do ser humano: perdoar a quem nos ofende.

Desenvolvemos muitas doenças por que não conseguimos perdoar, isto é, cristalizamos nas mágoas os processos de vindita através das ideias obsessivas, cujas causas deslocam-se do campo íntimo em desarmonia exteriorizando-se no somático. Em verdade os estados mentais enfermos serão invariavelmente refletidos no corpo físico através de variada sintomatologia seja no ódio, no rancor, resultando, por via de consequência, em nossa prisão a influências inferiores, engendrando uma cadeia mórbida de patologias devastadoras.

O espírito de Manoel P. Miranda diz que o ódio é fruto do egoísmo, do personalismo magoado, e Kardec comenta no Evangelho Segundo o Espiritismo que “O ódio e o rancor denotam uma alma sem elevação e sem grandeza. O esquecimento das ofensas é próprio da alma elevada, que paira acima do mal que lhes quiseram fazer.” Pesquisas modernas indicam que o ato de perdoar pode aplacar a tensão, reduzir a pressão sanguínea e diminuir a taxa de batimentos cardíacos. Perdoar, portanto, não é somente uma questão de conquista emocional e espiritual, é também uma questão de saúde. O Evangelista Mateus narra a passagem em que Jesus disse: “Se contra vós pecou vosso irmão, ide e fazei-lhe sentir a falta em particular, a sós com ele; se vos atender, tereis ganho o vosso irmão. Então, aproximando-se dele, disse-lhe Pedro: “Senhor, quantas vezes perdoarei a meu irmão, quando houver pecado contra mim? Até sete vezes”? – Respondeu-lhe Jesus: “Não vos digo que perdoeis até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes”.

Não resta dúvida que aprendendo a perdoar, estaremos promovendo nosso crescimento espiritual. A condição do verdadeiro perdão é o esquecimento. Mas não podemos deixar-nos encharcar de hipocrisia ao ponto de dizermos que já conseguimos isso com todos os que nos ofendem. É certo que para nossas aparências sociais “o perdão significa renunciar à vingança, sem que o ofendido precise olvidar plenamente a falta do seu irmão: entretanto, para o Espírito Evangelizado, perdão e esquecimento devem caminhar juntos embora prevaleça para todos os instantes da existência a necessidade de oração e vigilância. Alias, a própria lei da reencarnação nos ensina que só o esquecimento do passado pode preparar a alvorada de redenção.”

O Evangelho Segundo o Espiritismo no capítulo X dá a dimensão do perdão, na sua forma mais simples e mais agradável a Deus, levando-nos a refletir nas palavras do Mestre registradas por Mateus entre as Bem-Aventuranças: “Se perdoares aos homens as faltas que cometeram contra vós, também vosso Pai celestial vos perdoará os pecados; mas, se não perdoardes aos homens quando vos tenham ofendido, vosso Pai Celestial, também não vos perdoará os pecados”. Jesus aconselhou amar os nossos inimigos no enfoque de não devolver com a mesma moeda aquilo que nos foi desferido. Oferecendo, porém, a outra face, a face do bem, pois assim cortariam pela raiz os sentimentos de vingança.

Cabe aqui um registro de grande importância é o exercício na intimidade familiar. Não podemos perder de vista a suprema necessidade do perdão em família. Precisamos muito mais do perdão, dentro de casa que na ribalta social, e muito mais de apoio recíproco no ambiente em que somos chamados a servir que nas veredas ruidosa do mundo. E se Jesus nos ensinou perdoar setenta vezes sete aos nossos inimigos, quantas vezes deveremos perdoas aos amigos (familiares) que nos entristecem a alegria de viver dentro do ambiente doméstico?

Portanto, aconteça-nos o que acontecer, não cedamos, nunca, a pensamentos de rancor e de vingança; isto poria em ação forças destrutivas que, mais cedo ou mais tarde reagiriam contra nós mesmos. Certamente, os agravos que nos façam não ficaram impunes, mas deixemos a cargo do Criador a justa correção.

Denise Costa – Extraído do Texto de Jorge Hessen